sábado, outubro 17, 2009

(everything's a memory, with strings that tie to you)

Acabou-se a magia.

Agora o mundo é real, a tua ausência é real, e as páginas em branco têm outro sentido. Agora o futuro é diferente visto daqui e o passado ganha a força da eternidade. Está tudo lá atrás, nos tempos em que não havia nada além de nós, em que éramos o que a alma nos quisesse dar.

Sempre os dois, só os dois.

Mas agora, não somos mais. As portas da tua casa, as janelas do teu quarto, por onde eu entrava para proteger o teu sono, fecharam-se à nossa frente, entre nós. Partimos os dois, sozinhos os dois, às cegas por esta trilha estranha, esta condição de navegar sem par.
Não sei se seremos capazes de andar neste caminho novo, ou velho, neste retorno ao que um dia fomos antes de nós.



Já sinto falta do brilho cor de âmbar que tinhas quando me olhavas. Tão raro que não entendi de onde vinha.
Sinto falta de cair no teu colo, voar nos teus braços, beber os nossos sonhos.

Mas isso agora está tão longe de nós meu amor, preso nesse passado que tem outra força mas que não existe mais.

Alimentámos a flor?
Regámos as sementes na alvorada?

Deixámos o vento e a chuva fazerem-no por nós, somos um campo dourado de flores secas.


Não sei quando é que deixei de saber sonhar-te sem limites, quando é que os braços me começaram a cansar, quando é que te quis ver de longe e não fui capaz de completar a imagem.
O que fomos juntos sei-o bem, mas o que éramos antes de nós, além de nós, já não soube desenhar. Como se não tivesse entendido a tua solidão junto com a minha, ou a tua luta antes de mim, ou os teus segredos. Por trás do âmbar doce que trazias nos olhos eu não conhecia o teu olhar.

Talvez porque brilhasse demais, ou talvez porque eu não soubesse olhar-te.

Não sei se o nosso amor nos prendeu ao mundo que criámos, ou se nos impediu de nos vermos inteiros.

Ás vezes, amor, o que nos dá a vida é o mesmo que nos mata.


O presente há de saber arrumar as coisas dentro de nós; o passado fica guardado, relembrado doce, às vezes amargo, infinito. O futuro é uma promessa cheia de incertezas, de oportunidades e desilusões.

Que a magia regresse a nós, e ao caminho que soubermos cumprir.

Até sempre, meu amor.



*Mó
03.10.09

terça-feira, setembro 08, 2009

pinxepe.




Parece que desceu o pano.

Os actores recolheram, a música acabou, as luzes apagaram. Ninguém saiu da sala. As lágrimas ainda não tiveram tempo de secar, coladas no rosto que vibrou. Atadas ao coração que sentiu.

Não houveram aplausos, eu não os ouvi. Não havia público, afinal.

Era a nossa peça, o nosso enredo, o nosso cenário.
Era a nossa música, no nosso tempo, nas nossas mãos.

Essa peça, atrás desse pano que agora desceu, era a nossa vida. A vida juntos que não chegamos a ser.

Fica um lugar confuso, entre a esperança e o desalento, porque escrevemos as linhas juntos, e agora não as sabemos ler.

O pano desceu.

Foram todos embora, menos eu e tu. Ficamos na memória de nós.

Porque não há drama depois do esquecimento, porque não há amor antes do sonho.
Sonhamos, sonhamos tanto...e isso, ainda que por trás do pano que agora desceu, é o que continua a vibrar dentro de nós.

Sejamos gratos pela história que soubemos escrever.

E antes que a sala feche, antes que tenhamos de sair, de nos despedir na porta onde um dia entramos, quero que saibas que te amo. Pelo que fomos, pelo que seremos para sempre...mesmo que não retornemos ao palco onde soubemos sonhar.


(não nos esqueças)

Mó*
08.09.09

sexta-feira, agosto 07, 2009

(n)a minha cabeça, sobre o meu corpo.



Segura a tua cabeça em cima do teu corpo.

Inspira.

Repete o processo, reverte o resultado.

Respira.

Respiremos, agora os dois, duma só vez.


Vês?
Sentes o que vês?


Então fecha os olhos.
Beija-mos.

Beijemo-nos.


Segura a minha cabeça.

Em cima do meu corpo.


Respiro.

Sinto-me. Sinto-te a sentires-te também.


Silêncio.

Solidão partilhada.



Vamos a um lugar onde o tempo que passa é o mesmo tempo que fica por passar.

Vamos agora?


(fechemos os olhos, e cheguemos lá...
talvez...)


Mó*

segunda-feira, agosto 03, 2009

Nunca pensei




(Hoje, eu acordei, e nem pensei no fim da linha
Hoje, eu levantei, e segurei a flor da vida, em vida, ergui os meus pés do chão

Nunca pensei que fosse fácil para mim
Que fosse fácil para ti, mas tentei
Não ser sombra de ti
E ter desejos para mim
Não ser apenas a luz do jardim

Foi por ti que eu roubei, Dei-me a ti, Só por ti pequei
Mas por mim, Partirei, sei que não voltarei para dizer, Meu amor

Nunca pensei que fosse fácil para mim
Que fosse fácil para ti, mas tentei
Não ser sombra de ti
E ter desejos para mim
Não ser apenas a luz do jardim)


sombras do desejo - donna maria

quinta-feira, julho 23, 2009

(in a manner of speaking)

Não fales mais.

Cala-me com o teu silêncio para que me consiga ouvir em ti.


Não me encontro, nem sei se me quero encontrar.
(sou demasiado egoísta para me saber ver onde não deveria estar).

Não me ligues mais.

Não ouças os meus gritos, nem limpes as minhas angústias.

Não me substituas de mim, como se fosses outra parte de mim.

Se te quero é por seres silêncio que me deixa ouvir,
voz que me deixa calar,
fantasia que me deixa sobreviver.

Não sejas o céu onde brilho,
ou o mar onde nado,
ou o espaço ultra sintonizado onde escrevo o que não sou capaz de dizer.

Não fales mais,
diz-me nada.


Mas abraça-me
uma...
e outra...
e outra vez...


*Mó
23.07.09



(In a manner of speaking I just want to say that I could never forget the way
You told me everything by saying nothing
In a manner of speaking I don't understand how love in silence becomes reprimand
But the way that I feel about you is beyond words
In a manner of speaking I just want to say that just like you I should find a way
To tell you everything by saying nothing
In a manner of speaking semantics won't do in this life that we live we only make do
And the way that we feel might have to be sacrified
Oh give me the words, give me the words that tell me nothing
Oh give me the words, give me the words that tell me everything)

terça-feira, junho 16, 2009


Hoje tinha de falar contigo.


Queria telefonar-te e dizer-te que sem ti não me sinto a mesma, não me reconheço mais.


Não suspiro antes de adormecer, não acordo a meio da noite contigo a falares, sonâmbulo, comigo a tentar entender-te.

Tentei entender-te, meu amor. Tentei entender-nos, perceber o que de nós era realmente nosso, o que era mais do que só teu ou só meu.

Tentei decifrar as dúvidas, questionar as certezas, para que fosse certo que era tua, que eras meu.

Tentei dar razão ao que sentíamos, para que fosse inteligível que te amasse.


Não sonhávamos as mesmas coisas, não queríamos os mesmos lugares, não gostávamos dos mesmos sabores. Não víamos os mesmos programas, e não ouvíamos as mesmas musicas. Não sabíamos dançar os dois - calcávamos os pés um do outro, e sorriamos.

Não éramos iguais, sabíamos disso, e mesmo assim, amávamo-nos.

Não interessava que não quisesse o mesmo lugar que tu, porque desde que te tivesse por perto, tudo fazia sentido. Desde que o teu ombro fosse meu todas as noites, que os teus lábios me acordassem de manha, que as tuas lágrimas se soltassem junto com o teu sorriso quando me visses chegar, tudo era perfeito.


Eu fui só tua.

Desde a primeira vez, por todos os dias.


E hoje, tinha de falar contigo.

Porque era mais um dia nosso, mais um motivo para celebrar como tantos que fomos sabendo inventar.


“Não me deixes”. Apetecia-me pedir-te.

Apetecia-me pedir-te só mais um dia, só mais uma hora. Só mais um beijo.

Apetecia-me pedir-te que antes de partires me deixasses o teu cheiro, o teu olhar e a tua voz, porque acho que sobreviveria assim.


…Pedir-te que me roubasses só mais uma vez a alma do corpo, como fazias quando adormecíamos os dois, as minhas costas no teu peito, os teus lábios no meu cabelo.


Pedir-te que me chamasses “pateta”, como me baptizaste e me eternizaste na nossa história.



Hoje é o nosso dia, e eu não sei o que faço aqui. Não sei como passar o tempo sem sonhar com a hora em que vais chegar, dar-me um presente que adivinho, com um bilhete que finjo ficar surpreendida de receber. Sem planear ao detalhe o momento em que trago o bolo, com três velas e canto para nós, com o rosto rasgado em felicidade.

Sem te achar o homem mais lindo do mundo quando me abraças e me dizes ao ouvido

“amo-te princesa”.


Não sei como dormir, como passar a noite de hoje sem te sentir a passear os dedos na minha pele.

Não sei, hoje mais do que nunca, como convencer a razão que não há razão para que nos amemos mais.


Porque hoje, o dia de hoje, é feito de uma praia, de um vendaval e de gaivotas.

É feito de nós.


(sinto a tua falta).



*Mó

17.06.09




“Já não preciso de contar histórias. Deixo cair todos os efeitos lustrosos e atinjo o próprio coração do amor, essa tinta espessa que flutua sobre o tempo e transfigura tudo aquilo em que toca. Pode ser uma palavra amachucada, uma flor que envelhece, um búzio onde ainda cintila o mar onde já não vive. Pode ser o teu rosto de ontem, ou o que dele resta para hoje. O que importa não é o enredo, a forma, nem sequer a cor.

O que importa é a circulação conjunta de um corpo e de uma alma em torno do despojado sedimento da sua verdade.”



“Fazes-me falta”, Inês Pedrosa.

quinta-feira, abril 30, 2009

Hoje, o meu patrão é prémio Pessoa...

eu tinha de ter arranjado maneira de chegar perto do poeta das palavras, senão não descansava...e escrevo para no silencio lhes dar os parabéns, aos dois. Ao premiado, e sobretudo àquele que dá o nome ao prémio.

São dois mestres, carimbados no passaporte que vou fazendo de mim.

terça-feira, abril 07, 2009

[Eu ando pelo mundo]

foto: Mónica Guerra Rocha. "heteroretrato#"


Eu ando pelo mundo prestando atenção, em cores que não sei o nome . Cores de Almodovar, cores de Frida Kahio, cores. Passeio pelo escuro , eu presto muita atenção no que meu irmão ouve. E com o uma segunda pele, um calo, uma casca, Uma cápsula protetora , Eu quero chegar antes. Pra sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus. Eu ando pelo mundo divertindo gente. Chorando ao telefone e vendo doer a fome dos meninos que têm fome.

Pela janela do quarto, Pela janela do carro, Pela tela, Pela janela, Quem é ela , quem é ela? Eu vejo tudo enquadrado, remoto controle. Eu ando pelo mundo, e os automóveis correm para quê? As crianças correm para onde? Transito entre dois lados , De um lado eu gosto de opostos, expondo o meu modo,me mostro . Eu canto para quem? Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê? Minha alegria, meu cansaço? Meu amor cadê você? Eu acordei, não tem ninguém ao lado. Pela janela do quarto, Pela janela do carro, Pela tela, Pela janela, Quem é ela , quem é ela? Eu vejo tudo enquadrado, remoto controle.

Esquadros
- Adriana Calcanhoto

domingo, abril 05, 2009

Uma vez pedi-te
Que me desses tudo

Que inventasses o que
Não tivesses
E fosses oriundo
Dos sítios onde nunca me deixaste chegar.

Uma vez pedi-te que me
Ensinasses a voar.
Pedi que me cantasses
Ao luar
E que me contasses
Histórias de encantar.

Que as inventasses
Que mas cantasses

Mesmo que a voz te falhasse
Mesmo que a canção acabasse
Que a lua esvaziasse
Ou que eu
Já nem te amasse.

Pedi-te uma vez
E outra
E outra vez
Que fosses perfeito
Ou que apenas
Não me fizesses do sonho
Um sonho desfeito.

Que gracejasses
Que confessasses
Tudo
Que me mostrasses
No lugar do peito
Um insuspeito
Infinito.
que me desses mudo
o amor num grito.

Pedi-te que fosses
Mais do que és.
Que me desses mais
Do que tens.




E agora que me és
E agora que me tens,
Peço-te
Não mo dês.
Não o dês a ninguém.

Porque amar não é pedir,
É somar.
Não é ter,
É querer.
Não é saber,
É sentir.

Não é sonhar
É viver.

E se ao pedir
Mais,
Nem que seja por uma vez…
se pedir for demais

Não dês.

Por amor não dês.
Nem peças.

Sem promessas
partilha.
Divide o coração
E sente saudade

Que amar sem solidão
É amar sem liberdade.


*Mó
17.03.09


foto: autoretrato. Mónica Filipa Guerra

sábado, março 07, 2009

O tempo inteiro para mim.


Para o que gosto e o que não gosto num segundo,

para os silêncios e as solidões,

para chorar até ao fundo, para rir sem razões.


O tempo inteiro para enlouquecer,

para acreditar e desiludir,

para gritar, para acordar,

para dormir, para não dormir.


O tempo inteiro para cair.

Para me levantar,

Ou para me deixar ficar.


Tempo inteiro para sentir saudade,

Para matar saudade


Dum principio de mim

Sem tempo para ter fim,

Sem tempo

Para parar.


Tempo inteiro para ter

E para perder


Para recuperar.

Para esquecer.


Tempo inteiro para viver

E morrer.


E desta morte só que anuncio,

Tempo para um mar

E um rio.


Tempo para ter tempo
num tempo demais
em lugares grandes demais


Lugares onde tenho tempo
para os tais tempos
em que caibo demais em mim.


Tempo para ser eu
assim.

Ou assim assim.


Ou não ser
se não quiser


Tempo de menina
feita mulher.

Tempo sozinha


Com um mundo por trás.


Tempo para o tanto faz.

O tanto fez…


Para ser o que fui

Para saber o que és.


Tempo de inventar
e criar o que souber.


De ter medo.

Tempo de ter muito medo.


Tempo aqui,
sem ti.



O relógio que nunca tive no pulso já mais não tenho na mente.

Não sei mais limitar as minhas horas, agora que todas são minhas.


Mereço menos, preciso de menos, porque o tempo que não se dá é tempo que não se tem. A noite e o dia misturam-se, o frio e o calor subvertem-se. Por dentro e por fora confundo-me. Não sei mais ser dona só de mim. Não sei mais de mim…


(volto já, volto sempre, porque levo os meus lugares dentro de mim, a memória no presente. Todos os dias, todos os tempos. Porque eu sou o que tenho, não tenho nada do que sou. E a vossa presença, a vossa persistência dentro de mim é o que me faz ser a solidão quando ela é doce, as vossas vozes são o que tornam as minhas palavras melodias.)


Com amor, e saudade,


*Mó

01.03.09

sexta-feira, fevereiro 27, 2009



Canção do Engate

Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos

Tu estás só e eu mais só estou
Que tu tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta

Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás
Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia

Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada


Até já...*
vou ali e volto já***

*Mó

Lua nova

O relógio tocava com os ponteiros no meio. Era meia noite, e em todas as noites em que a lua aparecesse eles encontravam-se.

Não marcavam hora, deixavam que o tempo os levasse, não marcavam sitio, deixavam que o vento lhes dissesse de onde vinha essa vontade de se tocarem.

Eram novos, muito novos, duma juventude que amedronta a idade e a razão, e todos os dias, à meia noite ficavam gigantes. Ele transformava-se num herói de capa e espada, daqueles que já nem se contam mais nos contos de encantar, e ela, numa princesa enclausurada, que ganhava lanço e aprendia a voar. O feitiço apanhava-os sem que pedissem, e fazia deles um mundo paralelo onde não cabia mais nada, mais lugares, ou mais horas. Eram só eles, naquele tempo e naquele espaço, irrepetiveis, inesqueciveis, enamorados.

Prometiam o infinito com um olhar, enquanto se deliciavam com o canto dos silêncios que deixavam acontecer.
Encontravam-se, mas não se encontravam so no tempo, nem no espaço, encontravam-se num passado que nunca tiveram, como se sempre tivessem estado ali, como se não fizesse sentido outras historias antes daquela, outros contos antes daquele canto.

Encontravam-se na alma, naquelas lamechices que nem acreditavam, falavam com o cheiro, tocavam-se com o desejo, sem precisarem de entrelaçar a pele.

Amavam-se toda a noite, corriam pela rua vazia, despidos de sentido, corriam sem destino, sem motivo, sem razão.
Corriam com os olhos vidrados, esfomeados de luz e paz. Corriam enfurecidos, deseperados, queriam passar o limite que separa o infinito do futuro.

Eles queriam ter futuro, ter um amanhecer, ter um sol, só um sol.
Queriam ter um castelo, e uma nuvem onde dormir.
Queriam um rio, e um planalto.
Queriam tocar-se.

Mas ao primeiro raio de sol não se conseguiam ver.
Ele perdia a capa e a espada, perdia o cavalo e voltava a pé, com chumbo no pé, sem poder correr.
Ela descontrolava as asas, que a levavam para a janela da torre de onde não sabia sair.

Na torre ela tinha rios, descalço ele caminhava planaltos, ela tinha um castelo, ele de dia via as nuvens. Os dois tinham o sol.

Mas perdiam o mar. E perdiam o infinito. Perdiam o olhar que vem de dentro, e o cheiro que fala. Perdiam a voz dos que se falam sem palavras.

Perdiam-se um do outro.

E um dia, a lua não apareceu.
Ela não voou, ele não cavalgou. Adormeceram os dois, mas não sonharam.

Porque os sonhos são o lugar da liberdade, e a paixão é o tempo em que ela aconteçe.


*Mó
27.02.09



Porque a dependência é uma besta que dá cabo do desejo, e a liberdade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo... Enquanto houver estrada p'ra andar, a gente vai continuar.

Jorge Palma

sexta-feira, fevereiro 20, 2009



A noite que me entoa os passos
pelas ruas onde passo
recua-me os sentidos
que bem escondidos,
sofridos
temidos
esperam que me esperes
nos teus braços.

O silêncio que me come
os tempos
ouve-te calar
por fora

e agora
que vou embora
em passos...lentos...
seguro-me pelos cantos
na esperança que me esperes
nos tantos
silencios que tiveres.


É tarde
que o sinto.
E é tão tarde que outrora
amanheceria a esta hora

numa espécie de aurora
e infinito.
Amanheceria contigo,
e em fingimento
só para que o sol
vindo do vento
fizesse desta hora
a demora que eu quisesse..


É tarde
e é silêncio
e os meus passos tortos,
mortos,
loucos,
são poucos.

Não te trazem
não me calam
não te levam
não me valem.

Não me servem:

Se não me adormecem
e não te chamam

não nos amam.


*Mó
20.02.09

img: http://www.gsfc.nasa.gov/gsfc/spacesci/pictures/soho/eclipse.jpg

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Um eclipse (do grego έκλειψη, ekleipsi, "desvanecer") é um evento celeste que mais tem atraído a curiosidade humana com respeito a mecânica celeste. Um eclipse é quando um corpo celeste se sobrepõe a outro formando um cone de sombra que no caso risca a superfície terrestre formando uma zona de ocultação. Visto da terra, existem vários tipos de eclipse e o mais comum são os lunares que podem ser parciais ou totais. O eclipse total é quando os cones de sombras da penumbra e numbra terra são projetadas no disco lunar. Quando a Lua é vista da Terra passando na frente do Sol, podem ser do tipo anular ou total. Entretanto, existem eclipses em todo o universo.
Em planetas como Marte só é possível haver eclipses parciais ou seja, anulares (semelhante ao alinhamentos do planetas Mercúrio e Vênus muito comum na terra), uma vez que os dois satélites (Fobos e Deimos) estão distanciados da superfície para cobrir o Sol por completo. Mercúrio e Vênus são planetas nos quais supõe-se não haver eclipses, uma vez que além de serem muito próximos do Sol, não têm satélites conhecidos.

in http://pt.wikipedia.org/wiki/Eclipse


You could be from Venus
I could be from Mars
We would be together
Lovers forever
Care for each other

You could live in the sea
And I could be a bird
We would be together
Lovers forever
Care for each other

If you wear an illusion
I will make it real
We would be together
Lovers forever
Care for each other

If you walk in the sun
I will be your shadow
We would be together
Lovers forever
Care for each other



quarta-feira, janeiro 28, 2009

Apagaram-se as luzes.
A música toca tão baixo que não a consigo cantar, canta tão alto que não a decifro.

Hoje decidi parar.
O vento congela-me o corpo como a dor que me congelou os sonhos inconcretizáveis. Queria que esta tisana quente, que bebo em goles pequenos, me incendiasse o peito, e que no meio da chama eu queimasse.
Queria ser o fogo dos mortais que em algum lugar ardem de amor e solidão partilhada.

Mas a minha solidão hoje é só.
Só eu, e a tisana quente que só o corpo consegue aquecer.

Dentro do escuro, o mar.
Não o ouço, a música tão alta não deixa.
Não o vejo além, o vidro que me protege reflecte a minha imagem.
Não o cheiro.
Mas sei-o lá...


Sempre agitado, sempre diferente. Todos os dias avança e recua. Permanece.
E eu que ás vezes avanço demais, às vezes recuo demais, já não sei o meu lugar.

Hoje, nesta solidão tão só, apagaram-se as luzes dentro de mim, e deixo-me sentir.
Hoje não canto, nem danço, nem vejo nada além de mim reflectida no vidro, com uma tisana entre as mãos.
Hoje volto a ser eu mais a solidão escurecida do que já fui.
Hoje não sou tua, nem minha, não tenho tempo nem sentido.

Hoje sou. Só sou. Sou só.
Sem dono e sem amor. Sem nada. Sem mim.

Sem pensar. Sem sentir.

Hoje morri para renascer a seguir.

(a tisana acabou).

*Mó
25.01.09