segunda-feira, fevereiro 09, 2015

CICLONE

Declararam que seria magistral.
Que viria um vendaval,
que correria um tormento
e que pelas ruas haveria
uma tempestade que seria
colossal.

Mandaram que se ficasse atento.
Que se atentasse ao vento
e àquele momento
em que tudo mostrasse
contratempo.

Disseram que podia ser ciclone.
Ou um furacão,
Ou um tufão
Ou até um tornado!
- é que um homem assustado
vai além da razão.

Contaram tanta desventura
dessa tempestade
que não tinha alma nua
pela cidade.

Ninguém saia de casa:

“Vai que o vento me leva
vai que a chuva me arrasa!"

“é que eu não sou peixe!"

“e eu não tenho asa!"

Ninguém se atrevia
a abrir a janela nesse dia.
Trancas nas portas
e luzes apagadas.
Flores guardadas
nas sacadas.

Só que ele não sabia
De nada.
E ela andava meio
Desligada.

Estava nublado,
e ele desavisado

saiu à praça
só pra ver quem passa.

Ficou lá um bocado.
Tinha algo errado 
que não entendia!

Não havia, não havia!
Ninguém, naquele dia.

Ela morava lá do lado.
e com o céu acizentado

Decidiu descer à praça.
Pra ver quem passa.

Só tinha ele.
Só tinha ela.
E nenhuma luz à janela.

Ficaram abestados
Envergonhados
Acatados,
Quase
quase
apaixonados.

E sozinhos, nessa praça
Onde ninguém passa,
começou uma chuva mansa.

E eles, desavisados,
em vez de ficarem assustados
começaram uma dança.

Diz que dançaram tanto
que a chuva se encantou
e que por conta desse encanto
o tormento nem chegou.

Não houve ciclone,
Trovão, ou tempestade,
chuvada ou alagamento.
Mas houve um sentimento.
E uma história de verdade:

Unidos pelas mãos
Seguiram dançando no vento,
Respirando e
Pulsando a cada batimento
uma vontade:

Que aquele momento
deixasse saudade.

E dizem que desde então
sempre que há informação
Que uma tempestade
Ameaça,
Milhares de casais da cidade

Descem à praça.



08.02.2015 (sobre o “ciclone” de dia 05.02)